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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Desconfiemos de Nós

Baseado no livro Técnicas de Viver pelo espírito Kelvin Van Dine e psicografia de Waldo Vieira.

Kelvin hoje nos convida a conversarmos sobre um hábito que todos temos e que parece muito ingênuo, mas que pode causar muitos males, tanto para nós quanto para o nosso próximo.

O nosso cérebro é capaz de expedir dezenas de julgamentos, mesmo inconscientes, durante um único dia. Temos as fórmulas perfeitas, as soluções imediatas para todos os problemas da Terra e saímos a julgar todos que encontramos, seja nos noticiário, seja nossos companheiros da vida diária.

Passamos a maior parte do nosso tempo valorizando o mal, destacando as atitudes negativas dos outros, enxergando dificuldades e vícios e escondendo as virtudes, as conquistas individuais. Esquecemos que o foco no mal, amplia o mal.

E não apenas julgamos e guardamos esse julgamento para nós, temos o triste hábito de tecer comentários com os outros a respeito das imperfeições do nosso próximo. Esse ato tem o nome de maledicência, mas para amenizá-lo o chamamos de “pequeno comentário”, uma “fofoquinha” sem maldade alguma.

Richard Simonetti sobre a maledicência nos diz que “é mais terrível que uma agressão física. Muito mais do que o corpo, fere a dignidade humana, conspurca reputações, destrói existências.”

Temos o nosso livre-arbítrio, mas colhemos sempre os frutos daquilo que semeamos, enquanto não emitimos as palavras somos senhores delas, mas, quando a pronunciamos, passamos a ser escravos dela.

No texto de nossa exposição Kelvin nos diz: “A maior percentagem do mal que existe no mundo, vive e se derrama de nós mesmos.”

Isso nos lembra uma pequena historinha:

Conta-se que certa senhora todo dia olhava pela janela as roupas da vizinha e dizia:

- Nossa, como essa mulher lava mal essas roupas, estão todas sujas! Alguém precisa ensiná-la como fazer!

E assim passaram-se os dias, até que numa manhã ao olhar pela janela, admirou-se. Como estavam limpas as roupas no varal da vizinha, finalmente aprendeu a limpá-las! Comentou a mulher.

Foi quando o marido que estava a ler o jornal na sala retrucou:

- Não é nada disso, eu que limpei as vidraças essa manhã.

Precisamos estar atentos, pois quando nos incomodamos muito com determinadas atitudes do próximo, pode significar que esta mesma atitude encontre-se também nos nossos atos, no nosso modo de agir.

Não temos o direito de condenar ou julgar, pois falta-nos competência e autoridade para tanto, pois que somos também necessitados de indulgência, de perdão para os nossos erros, pois também os cometemos. Justiça absoluta, somente a Divina.

Condenamos toda espécie de roubo sem, ao menos, questionarmos as dificuldades daquele que delinqüiu. No entanto, estamos lidando de forma totalmente íntegra com os nossos impostos? Adquirimos sempre de forma legal CDs, DVDs e produtos eletrônicos?

Criticamos toda a forma de burlar a lei, sem verificarmos a situação individual de cada caso. No entanto, como lidamos com alguns de nossos atos diários como uma pequena contramão, o atender rapidinho o celular enquanto dirigimos, um jeitinho para escapar das multas?

Banimos toda a forma de violência, sem poupar críticas ao agressor, vendo-o como a pior criatura da sociedade. No entanto como lidamos com a violência silenciosa dentro de nossas casas ou no trabalho? Já conseguimos controlar o tom de voz para que o grito não intimide aqueles que amamos.

É claro que não estamos dizendo que devemos ser cúmplices dos erros alheios, acobertá-los, mas analisá-los para nós, analisarmos o erro e não o próximo, procurando aprender com o erro alheio evitando repeti-lo em nossos procedimentos.

Em alguns casos, é preciso avaliar a ação do nosso próximo para auxiliá-lo na correção dos seus desvios de conduta. Assim faz o pai em relação ao seu filho, o professor com o seu aluno, um amigo em relação ao outro. Mas lembremos que há imensa diferença entre avaliar para ajudar e julgar para condenar.

Joanna de Angelis no livro Lampadário Espírita nos diz que “Não há desejo de ajudar quando se censura. Ninguém ajuda condenando. Não há socorro se, a pretexto de auxílio, se exibem as feridas alheias à indiferença de quem escuta.”

Derrapamos num dos mais conhecidos ensinamentos do Cristo contido no ESE Cap X item 11: “Não julgueis, a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros.”

Quando procuramos realizar a nossa reforma íntima, passamos a combater os nossos próprios defeitos e para isso procuramos exercitar a virtude que se opõe a este defeito. No caso da maledicência o hábito a ser adquirido é o de bendizer, o da indulgência, exaltando o lado bom do próximo.

No ESE Cap. X item 16 nos dizem os espíritos amigos; “A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que não se tornem conhecidos senão dela unicamente e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles.”

Elevar o pensamento, no momento em que pensarmos em comentar sobre o nosso próximo, refletir se desejamos para nós o que estamos prestes a falarmos do outro. Além de cuidarmos com o que falamos, é igualmente importante nos preocuparmos com aquilo que ouvimos.

Precisamos nos policiarmos e nos corrigirmos. Como? Vigiando os nossos pensamentos, ocupando nossas mentes com trabalho útil e pensamentos elevados. Não tocando em assuntos que não nos dizem respeito e não dar continuidade a conversações maledicentes. Não precisamos ser desagradáveis com quem tece o comentário, apenas com jeitinho sugerirmos a mudança de assunto.

Nosso olhar julgador deve estar em cima do nosso próprio comportamento de como estamos conduzindo nossa vida e não como os nossos semelhantes conduzem a deles.

Irmão X pela psicografia de Chico Xavier narra-nos uma pequena história chamada “Os três Crivos”:

Certa vez, um homem esbaforido achegou-se a Sócrates e sussurrou-lhe aos ouvidos:

- Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave a dizer-te, em particular...

- Espera!... – juntou o sábio prudente. – Já passastes o que vais me dizer pelos três crivos?

- Três crivos? – perguntou o visitante espantado.

- Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se a tua confidência passou por eles. O primeiro crivo é o da verdade. Guardas absoluta certeza quanto aquilo que pretendes comunicar?

- Bem... – ponderou o homem – assegurar mesmo, não posso... Mas ouvi dizer...

- Exato. Decerto peneirastes o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julga saber, será pelo menos bom o que me queres contar?

Hesitando, o homem replicou:

-Isso não... Muito pelo contrário...

-Ah! – tornou o sábio – Então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.

- Útil?!... – aduziu o visitante ainda agitado. – Útil não é...

- Bem – rematou o filósofo num sorriso -, se o que tens a dizer não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele.

Procuremos cada um de nós utilizarmos nas nossas conversações os três crivos de Sócrates, e se em algum momento nos ocorrer um mau pensamento e a vontade de tecermos um comentário sobre o nosso próximo, paremos antes de emitirmos qualquer som e lembremos do último ensinamento que nos transmite Kelvin nesta noite:

“Se temos algo a desconfiar, desconfiemos de nós.”